Crepúsculo no aMar

Uma Análise das Profundezas do Sentir

Barcos ao mar durante o crepúsculo
⛵️

No aMar há barcos, grandes, diferentes batéis,
sem cores, sem formas... ao longe, apenas permutas
de tons de cinza escuro com negros metais...
No aMar há mar, há luzes que mergulham no mar.

⛓️

No aMar há terra firme
onde pisam animais,
animais que puxam animais
que puxam para animais.

No aMar, há prata derretida no ar e na água.
É a lucidez que brilha ao longe,
E mesmo distante ilumina... a m'água!

🌅

A praia erma ficou,
depois que o sol se apagou
e a luz do aMar levou.
O mar se afastou da terra,
embora ainda consigam se tocar!

🌱

No aMar ainda há vida,
mesmo que em cores
não se consiga enxergar!

Estava longe o aMar,
mas da terra ele conseguia lembrar.
O aMar há tempos espera
ver a terra se aproximar,
e ter sua areia molhada pelas ondas do mar!

🌊

No aMar a vida está,
mesmo quando o sol no crepúsculo se apagar.

As Profundezas do Sentir: Uma Análise Crítica

Diante de "Crepúsculo no aMar", o leitor não se depara com uma mera paisagem marinha ao entardecer. Somos convidados a um estado de alma, a um lugar onde a geografia externa é um espelho fiel de um universo interior. A obra, em sua aparente simplicidade, esconde camadas de complexidade filosófica e sentimental, que se revelam a cada leitura, como segredos sussurrados pela maré.

O Título: A Chave de um Duplo Sentido

O primeiro e mais genial golpe de mestre do poema reside em seu título e na sua recorrente palavra-chave: "aMar". A aglutinação transcende a gramática e adentra o campo da semântica poética. Não estamos lendo sobre "o mar", mas sobre o ato de "Amar". Cada verso que se inicia com "No aMar" pode e deve ser lido com essa duplicidade. O crepúsculo, esse momento limiar entre a luz e a sombra, torna-se o cenário perfeito para uma meditação sobre a natureza do amor em seus momentos de transição.

Análise Estrófica: Desvendando os Mistérios

Primeira Estrofe: O Palco da Indefinição. O poema abre com uma paisagem monocromática. Os barcos, "sem cores, sem formas", sugerem um estado de melancolia. As "luzes que mergulham" são as últimas esperanças que se afogam na vastidão do sentir.

Segunda Estrofe: A Crítica da Animalidade. A "terra firme" com "animais que puxam animais" é uma crítica brutal à realidade pragmática que invade o sentimento, representando os ciclos de poder e servidão.

Terceira Estrofe: A Epifania da Lucidez. A "prata derretida" simboliza a chegada da lucidez, um brilho frio que ilumina a escuridão. O neologismo "a m'água" funde "minha água" com "mágoa", mostrando que a clareza ilumina a própria dor.

Quarta e Quinta Estrofes: A Dialética da Distância. O afastamento entre mar e terra simboliza a separação. Contudo, o verso "embora ainda consigam se tocar!" é o coração do poema. A conexão verdadeira sobrevive à distância.

Sexta e Sétima Estrofes: A Espera e a Promessa. O "aMar" é personificado como uma entidade que lembra e espera. O poema se encerra com um mantra: a vida no Amor é uma constante que sobrevive a todos os crepúsculos.

Considerações Finais: Estilo e Verdade

"Crepúsculo no aMar" é um poema de maturidade sentimental. Sua grande verdade é que o Amor não é a ausência de dor ou distância, mas a capacidade de conter tudo isso e, ainda assim, persistir como força vital. É a lucidez que ilumina a mágoa, o toque que sobrevive à separação e a vida que insiste em ser, mesmo quando todas as luzes externas se apagam. Uma obra que conforta sem iludir, apontando a ferida, mas também a resiliência do espírito.